domingo, 8 de abril de 2018

Cantiga de Amigo

Cantiga de Amigo

Um dos gêneros das cantigas do trovadorismo galego português, as cantigas de amigo, diferentemente das cantigas de amor, tem sua origem na Península Ibérica. Em seus versos o eu lírico, agora feminino, canta sobre um enlace amoroso, e suas variáveis: as saudades sentidas de um amigo ou namorado, a vontade de visita-lo, a raiva por ter caído em seus enganos, a tristeza causada pela solidão, a desaprovação da mãe em relação ao romance, a solicitação da ajuda das amigas, a felicidade sentida pelo retorno do objeto de amor, etc.
O sujeito feminino se faz presente nas cantigas não só por meio do eu lírico, mas pelo universo em que ele se insere e representa. O cenário é rural e próximo à natureza. Serras, campos e praias são palcos frequentes para as trovas. Do mesmo modo que o ambiente doméstico. Mãe e amigas integram o corpo de figuras femininas para além da protagonista da canção, na maioria dos casos marcam sua presença nos diálogos como interlocutores.
Esse gênero de cantiga apresenta linguagem mais simples e próxima a uma literatura oral. Seus diálogos, paralelismos e refrãos são alguns dos elementos que caracterizam tal fato, e corroboram para aspecto musical do texto, pois facilita a memorização e a sonoridade. Apesar de retratar a feminilidade, seu espaço, descobertas (o sentimento amoroso e a sexualidade) e anseios, a autoria das canções continua sendo masculina.

Abaixo vemos um exemplo de cantiga de amigo escrita por Fernão Rodrigues de Calheiros:

"
Disse-mi a mi meu amigo, quando s'ora foi sa via,
que nom lh'estevess'eu triste, e cedo se tornaria;
e sõo maravilhada
por que foi esta tardada.

Disse-mi a mi meu amigo, quando s'ora foi daquém,
que nom lh'estevess'eu triste, e tarda e nom mi vem;
e sõo maravilhada
por que foi esta tardada.

Que nom lh'estevess'eu triste, [e] cedo se tornaria,
e pesa-mi do que tarda - sabe-o Santa Maria;
e sõo maravilhada
por que foi esta tardada.

Que nom lh'estevess'eu triste, [e] tarda e nom mi vem,
e pero nom é per cousa que m'el nom quera gram bem;
e sõo maravilhada
por que foi esta tardada
                                                                                          "

Na cantiga acima, observamos o eu lírico expressar sua ansiedade e preocupação na ausência do seu objeto de amor que partiu, pediu-a que não se entristecesse pois voltaria logo, porém está demorando para regressar e isso gera aflição na donzela.
Se traçarmos um paralelo entre o a cantiga de amigo trovadoresca e canções contemporâneas, encontraremos inúmeras similaridades e aspectos comuns. Já que a temática amorosa é algo que sempre fará parte da literatura e da vida humana. Como exemplo, podemos citar a música “Fico assim sem você”, gravada pela dupla Claudinho e Buchecha, lançada em 2002.

"
Fico assim sem você



Avião sem asa,
fogueira sem brasa, 
sou eu assim sem você. 
Futebol sem bola,
Piu-piu sem Frajola, 
sou eu assim sem você. 
Por que é que tem que ser assim 
se o meu desejo não tem fim. 
Eu te quero a todo instante 
nem mil alto falantes 
vão poder falar por mim.
Amor sem beijinho, 
Bochecha sem Claudinho, 
sou eu assim sem você. 
Circo sem palhaço, 
namoro sem amasso, 
sou eu assim sem você 
Tô louca pra te ver chegar, 
Tô louca pra te ter nas mãos. 
Deitar no teu abraço, 
Retomar o pedaço que falta no meu coração. 
Eu não existo longe de você e a solidão é o meu pior castigo. 
Eu conto as horas pra poder te ver 
mas o relógio tá de mal comigo 
Por quê? 
Por quê? 
Neném sem chupeta, 
Romeu sem Julieta, 
sou eu assim sem você. 
Carro sem estrada, 
queijo sem goiabada, 
sou eu assim sem você 
Por que é que tem que ser assim 
se o meu desejo não tem fim. 
Eu te quero a todo instante 
nem mil auto falantes 
vão poder falar por mim 
Eu não existo longe de você e a solidão é o meu pior castigo. 
Eu conto as horas pra poder te ver 
mas o relógio tá de mal comigo. 
Eu não existo longe de você e a solidão é o meu pior castigo. 
Eu conto as horas pra poder te ver 
mas o relógio tá de mal comigo.
                                                              "



Em ambas canções é perceptível o uso de refrão e paralelismos, “Disse-mi a mi meu amigo”, “Que nom lh'estevess'eu triste”, “sou eu assim sem você”.Há também a presença de um sujeito lírico feminino, que se queixa das saudades sentidas pela ausência do sujeito amado. Assim sendo, é nítida como questões amorosas e ligadas ao sentimentalismo humano, independente de seu linguajar, lugar de origem ou autoria, perpassam o tempo e se mantém presentes.




Bibliografia: https://googleweblight.com/?lite_url=https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Trovadorismo&ei=qx6egU7d&lc=pt-BR&s=1&m=326&host=www.google.com.br&ts=1506638148&sig=ANTY_L1sQIsc5lEJxQzH_S2C_TxkdmqtEQ http://cantigas.fcsh.unl.pt/sobreascantigas.asp https://www.vagalume.com.br/adriana-calcanhoto/fico-assim-sem-voce.html https://www.youtube.com/watch?v=iojYDSjKK00 https://pt.slideshare.net/HMECOUT/as-cantigas-de-amigo https://quilombonoroeste.files.wordpress.com/2016/07/maxresdefault.jpg?w=1200
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d7/Codex_Manesse_Von_Obernburg.jpg

Nenhum comentário:

Postar um comentário